O milagre de Natal de um Polícia


"Marcos" tinha 30 anos de idade, era solteiro e vivia com os pais e um sobrinho de 4 anos.

Aos 2 anos, o sobrinho("Miguel") perdera os pais num acidente de viação e Marcos tomou para si a responsabilidade de tomar conta do filho do irmão e cuidava dele como um filho.

Mas além de tudo isso, Marcos era polícia de profissão há pouco mais de quatro anos, e trabalhava na esquadra de polícia de “São Jorge”, a pacata cidade aonde vivia.

 

O pai  dele já tinha sido policia, e resolveu seguir os passos do seu progenitor, mas porque também acreditava que poderia fazer a diferença e dar o seu contributo para acabar com o mundo do crime.

E no fim daquela tarde de serviço, Marcos lembrou-se que no dia seguinte seria véspera de Natal, e estaria a trabalhar nessa noite e ficou triste, pois nunca tinha passado a noite de Natal longe dos seus familiares(em especial do Miguel) e dos amigos.

 

Entretanto despediu-se dos colegas de trabalho como sempre, e com um até amanhã e o desejo de bom serviço para quem ficava, saiu da esquadra para rumar até casa.

Como era Dezembro, o ar estava frio e chovia torrencialmente, pelo que Marcos assim que saiu do posto da policia correu até ao carro, entrou nele e fechou a porta.

Recostou-se no banco, colocou o cinto de segurança, rodou a chave na ignição e colocou o veiculo em marcha.

 

Ao chegar a casa, depois de estacionar o carro entrou em casa, ao  som de algumas musicas de Natal que entoavam na rádio que a mãe tinha ligado na cozinha para ir cantarolando enquanto fazia o jantar.

As luzes da árvore de Natal piscavam na sala, já haviam embrulhos com laçarotes de varias cores debaixo da árvore e as portas e janelas também já estavam com enfeites de natalícios.

E depois de jantarem todos juntos, Marcos e a família sentaram-se na sala para ver um pouco de televisão e conversarem sobre os assuntos do dia.

Ainda aproveitou o tempo para brincar um pouco com o sobrinho e logo depois foi deitar-se, mas ainda ficou um pouco a pensar no dia seguinte, era véspera de Natal e ele estava a trabalhar.

O dia 24 de Dezembro chegou. Eram 6,30 da manhã quando Marcos acordou, e sem saber a razão ele estava inquieto, algo o estava a deixar ansioso, quase que como um pressentimento de algo menos bom….

Saiu da cama, vestiu um fato de treino e mesmo com um frio de rachar lá fora, foi dar uma corrida no parque em frente da sua casa.

Quando terminou a sua corrida, foi para casa, tomou um banho, vestiu algo confortável para estar por casa e preparava-se  para tomar um café, quando o telefone tocou, olhou para o número e viu logo que era da esquadra, não era bom sinal ligarem aquela hora para ele.

Um dos colegas durante a noite tinha sido alvejado quando tentava evitar um assalto, quase todos andavam atrás dos dois alegados suspeitos do tiroteio e era necessário mais alguém para ajudar no trabalho do exterior e da esquadra.

Estava tudo assegurado, mas faltava um homem para completar a equipa da patrulha exterior, ele disse logo que sim e aprontou-se de imediato para ir reforçar a equipa.

 

Foi apenas avisar os pais ao quarto que tinha que ir trabalhar e passou pelo quarto do sobrinho para lhe dar um beijo e lhe dizer que o adorava como sempre fazia, mesmo com ele a dormir.

Fardou-se, bebeu o café a correr e saiu de casa. Mas quando chegou ao carro, lembrou-se que o colete balístico tinha ficado em casa, e instintivamente voltou atrás para o ir buscar.

E depois dentro do carro, e já a caminho da esquadra , pensou para si, ocorrer um tiroteio nesta cidade logo na véspera de Natal??era mesmo uma raridade.

Quando chegou á esquadra, já o colega estava no carro-patrulha e esperava por ele.

Ele cumprimentou-o , entrou para a viatura e ambos seguiram viagem para mais uma patrulha.

 

Quando já estavam quase no limite da cidade, entraram para uma zona aonde abundavam árvores enormes antigas, com folhagem muito espessa, aonde a vegetação era extensa e os trilhos em terra iam dar a recantos isolados.

E ao olhar para ai, Marcos imaginou que seria um local perfeito para alguém se esconder.

Pediu ao colega para parar a viatura e saiu. Deu uns passos, mas voltou atrás para buscar o colete e vestiu-o, não sabia a razão, mas algo lhe dizia que o deveria ter vestido.

Avisou o colega que se dentro de 30 minutos ele não regressasse o fosse procurar.

 

Com cuidado, lá ia ele pelos trilhos fazendo o mínimo de ruído e prestando o máximo de atenção a tudo, procurando alguma pista, quando algo lhe chamou a atenção…vozes!!

Aproximou-se um pouco mais com cuidado e debaixo de uma dessas árvores antigas viu dois homens, um estava deitado e aparentemente estaria ferido, pois tinha uns panos atados a uma das pernas, mas o outro estava ao lado dele, encostado e com uma arma em punho como se estivesse de guarda..

Entretanto, o homem que estava armado levantou-se a resmungar e o outro pediu-lhe que não o deixasse sozinho, porque se o fizesse, ele contaria ás autoridades tudo o que sabia sobre a fuga dele após o acidente que ele tinha provocado naquela cidade há dois aos atrás.

Logo após o ferido ter dito isso, o outro disparou contra ele e desatou a correr, colocando-se em fuga.

 

Logo depois, Marcos aproximou-se para tentar socorrer o alvejado. Pelo telefone pediu ajuda ao colega, que pouco tempo depois estava ao pé dele, ajudando a levar o ferido para o hospital.

Pelo caminho deu para perceber que estava vivo, mas estava bastante maltratado na perna, por sorte, a bala tinha atingido o abdómen apenas de raspão.

Marcos ficou ao lado do ferido e o outro foi tratar dos registos da ocorrência, quando o homem alvejado estivesse em condições iria ter que colher o testemunho dele também.

Enquanto o via a dormir, ele pensava que era véspera de Natal e ele ali num hospital, com um ferido e um fugitivo sabe Deus aonde andaria ele.

 

Entretanto via telefone, avisou os colegas do ocorrido, e deram-lhe a novidade que um dos responsáveis de ter alvejado o colega deles já tina sido capturado e estava detido, mas do outro nada  sabiam.

Já na esquadra,  o detido após ser interrogado durante horas, acabou por confessar  que o outro estaria morto, mas ocultando que tinha sido ele a disparar contra ele!

Enquanto os enfermeiros e os médicos andavam as voltas com a vítima em exames e observações, Marcos aproveitou e foi comer qualquer coisa, pois nem tinha dado pelo passar do tempo e já eram quase 3 da tarde.

 

Quando regressou, o homem já estava acordado e já tinha dado o depoimento dele ao seu colega, que ao sair da sala , lhe disse que precisava de falar com ele.

Já cá fora, encostados ao carro-patrulha, o colega disse que tinha uma informação para lhe dar que o iria abalar, mas que tinha que manter a calma!

E foi quando lhe revelou, que o ferido acabara de lhe confessar quem tinha alvejado o colega deles, e quem tinha provocado  o acidente que há dois anos atrás tinha morto duas pessoas nesta cidade. O único acidente com duas vitimas mortais naquela altura tinha sido o do irmão e da cunhada.

E o homem que tinha alvejado o colega deles, era o mesmo que os tinha atropelado e estava detido na esquadra.

 

Marcos ficou sem saber o que dizer e fazer. Só murmurou que queria ver ver o homem que tinha roubado o irmão dele e os pais do sobrinho.

Entraram para o carro, e rumaram juntos para o local de trabalho deles.

Já estavam todos reunidos, á chegada deles todos deram uma palavra de conforto a Marcos pois todos já sabiam.

Ele só queria estar frente a frente com o assassino do irmão.

Quando entrou na sala de interrogatórios e o viu, reconheceu logo o mesmo homem com a arma na mão sentado debaixo da árvore.

E avisou os outros colegas, que tinha sido ele que também tinha disparado contra o que estava hospitalizado, para acrescentarem mais um crime na lista dele.

 

Olhou para o homem com uma frieza nunca antes sentida por ele e apenas perguntou “porque?”, porque tinha atropelado e fugido?

Ele referiu que tinha assaltado um banco e estava a fugir da polícia, e por isso não parara.

Marcos segurou-o pelos ombros e o abanou tanto que ele acabou por cair, mas ao cair tirou-lhe a arma do coldre e disparou contra ele no torax.

Imediatamente ele foi algemado e Marcos prontamente assistido, apesar de tudo os colegas sorriram quando perceberam que ele tinha colocado o colete balístico, e que ele certamente o tinha salvo naquele momento. O projéctil já o atingiu só de raspão mas ainda sangrou bastante pelo que também foi para o hospital.

Já era noite, quando acordou, tinha um penso no torax, mas de resto até se sentia bem, e pensou, que tinha sido o milagre de Natal dele.

Estava perdido nos pensamentos dele, quando o telemóvel tocou e uma mensagem do sobrinho apareceu: “Tio não sei porque razão, mas tive vontade de te dizer que és o meu anjo da guarda, e sei que me vais proteger para sempre. Adoro-te”

As lágrimas escorreram pela cara abaixo, e lembrou-se das ultimas palavras do irmão para ele no hospital antes de morrer “quero que sejas o anjo da guarda do Miguel”!!

 

Logo a seguir entraram alguns colegas dele e disseram que já ia ter alta, o colete tinha o protegido do pior e o ferimento da bala tinha sido meramente superficial e não inspirava grandes cuidados, teria que voltar ao hospital dentro de dois dias para ser reavaliado, mas poderia ficar em repouso por casa durante uns dias.

Claro que deixou passar a noite de consoada e o Natal sem a família saber de toda a verdade, somente uns dias depois ele contou tudo.

Afinal estar vivo, era o milagre de Natal que nunca mais esqueceria...


(O meu primeiro conto de Natal)



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